Entrevista com a banda Angra que esteve divulgando novo álbum em pocket show acústico em São Paulo
Texto:
Giu Furlan Entrevista por:
Adriana Camargo e Giu Furlan Fotos:
Adriana Camargo A banda Angra não lançava nenhum disco há quatro anos, período bem conturbado, com troca de baterista, brigas com empresário e integrantes investindo em outros projetos. Finalmente numa retomada de rumo surge “Aqua”, um álbum conceitual baseado na obra “A Tempestade”, última peça de William Shakespeare.
A apresentação do novo trabalho ocorreu na noite de quinta-feira, 19 de agosto, em um pocket show no Manifesto Bar, em São Paulo.
Antes da abertura para o público, o grupo recebeu a imprensa e convidados para um coquetel e, gentilmente, alguns membros concederam uma entrevista para o nosso site.
ENTREVISTA COMO BAIXISTA FELIPE ANDREOLI Universo do rock: - Como foi o processo de composição das músicas do novo disco Aqua? Felipe Andreoli: No ano passado, no final da turnê com o Sepultura, por volta de setembro começamos a nos reunir e juntar as primeiras idéias e, até novembro chegamos a mais ou menos umas vinte músicas.
UR: - De onde veio a idéia de usar como inspiração William Shakespeare? FA: Um cartunista que na época estávamos cogitando em fazer um trabalho juntos, nos sugeriu “A Tempestade” porque não é uma das peças mais populares do autor, e a última que ele escreveu. Fala sobre vingança, mas no final o vingador perdoa os inimigos. A história se passa numa ilha e achamos que tinha muita coisa legal para ser explorada e dava boas metáforas com a vida cotidiana, ou seja, era um bom mote.
UR: - Da terceira ou quarta música em diante, o disco adquire características progressivas. Isso indica uma tendência daqui por diante ou foi casual? FA: Acho que o Angra sempre flertou com o rock progressivo e a partir do “Temple of Shadows” isso ficou mais evidente.
Não sei te dizer se esse novo disco é mais ou menos progressivo, mas cada pessoa tem uma impressão diferente, alguns o acham mais cru, outros acham que foi trabalhado demais. Alguns acham que está mais pesado, outros, que está mais leve. As óticas são distintas. O que posso dizer é que a gente fez o que quis e não se tolheu de nada do que achávamos certo, por conta do mercado.
UR: - Nem ficaram direcionados ao que os fãs esperavam? FA: Com tantos anos de experiência a gente já tem um limite, até inconsciente, de onde podemos ir. As idéias que surgem e não se enquadram de forma nenhuma no contexto acabam excluídas. O que sobra, trabalhamos com liberdade total. Se você fica ouvindo muito as pessoas, acaba fazendo o que não quer. A gente sempre toma o cuidado de não se sentir limitado com essas críticas e idéias dos outros.
UR: - No que esse álbum é diferente dos outros? FA: Acho que ele representa o auge de nossa maturidade como compositores, arranjadores e a participação de cada um nesse disco foi muito intensa.
A própria banda produziu o disco e organizamos uma divisão de tarefas para que tudo rolasse bem. Todos envolvidos em cada detalhe do processo com coisas que antes eram feitas ou pelo empresário ou pelo produtor e que não estavam em nossas mãos e agora estão: desde marcar o estúdio, o horário, qual equipamento, enfim, em todas as etapas do processo estávamos presentes. Essa é a grande diferença com os outros discos.
UR: - Você acha que o resultado de colocarem a “mão na massa” do início ao fim foi satisfatório? FA: Deu muito trabalho, sem dúvida. Em 99% dos dias da gravação eu estava em estúdio, se não estava gravando, estava produzindo a gravação dos outros componentes, cuidando da edição, ou da mixagem, dos detalhes da masterização. Claro que ter um produtor de fora é bom por dois motivos: primeiro, ter alguém de fora para opinar, totalmente imparcial, sem nenhum tipo de apego emocional às idéias e às músicas e, segundo, o produtor acaba organizando toda essa parte, o que te deixa mais tranqüilo. No entanto, atingimos um nível de confiança tão legal ao longo de tantos anos tocando juntos e pelo fato do Ricardo (Confessori) ter sido da banda por dez anos que eu sei que o padrão de qualidade de cada um é o mesmo, então não há medo, pois confiamos muito um no outro.
UR: - Como você acha que os fãs vão receber esse novo trabalho? FA: Eu tenho visto até algum feedback de alguns fãs e extremamente positivo. Sinto que as pessoas ouvem uma vez, alguns ainda não entendem na primeira audição, na segunda começam a entender e na terceira se apaixonam.
UR: - Eu participo de alguns fóruns progressivos na internet e a aceitação tem sido positiva exatamente por essa característica de progressividade que o trabalho apresenta. FA: Eu acho que uma das características dos álbuns progressivos é que não são de fácil aceitação. A pessoa que não tem boa vontade pode ouvir e estranhar e não querer ouvir mais. O que eu gostaria é imparcialidade por parte das pessoas.
O Brasil é um pouco ingrato com os artistas nacionais, só de ouvir falar que a própria banda produziu o disco num estúdio brasileiro, as pessoas já vão ouvir achando defeito. Gostaria que elas fossem mais imparciais e dessem mais valor, pois o Brasil hoje em dia não deve nada aos estúdios de fora. A mão de obra especializada em gravar heavy metal no Brasil que sempre foi aquém, agora não é mais. Hoje em dia temos profissionais tão bons quanto os de fora.
Gostaria que as pessoas ouvissem esse disco de mente aberta.
UR: Há também o fato de que o fã espera do Angra sempre a mesma coisa, se você muda uma vírgula isso é cobrado.Isso deve ser muito ruim, ou vocês não se preocupam com isso? FA: A gente não se preocupa, mas não deixa de acompanhar as opiniões.
O fã do Angra assim como do Dream Theater e de outras bandas como Iron Maiden, por exemplo, são extremamente críticos e a internet deu voz a todas as pessoas como se elas fossem críticos de música de fato. Então, a opinião pessoal do indivíduo que, de repente tinha uma expectativa dentro dele e ela não foi cumprida à risca, se decepciona. Ele vai à internet detonar o disco.
Vejo que para algumas pessoas falta o embasamento para emitirem determinadas opiniões. É como no futebol, todo mundo vira técnico. Mas o fã, ao mesmo tempo, nessa opinião sem base, acaba transmitindo um sentimento que ele tem e não sabe explicar. A gente tenta, então, filtrar essas informações de forma que se possa melhorar o trabalho.
UR: - Como é que você sente a banda hoje? FA: Sinto mais madura, não só na parte musical, mas na administrativa: metendo a mão na massa mais que nunca, mesmo na parte burocrática. Acho que temos tudo para trabalhar por muitos anos e estamos procurando buscar uma estrutura que seja um negócio duradouro, que dê longevidade para termos tranqüilidade de fazermos o que temos que fazer que é a música.
UR: - Qual o seu recado para os fãs? FA: Fizemos esse disco com dedicação total, nos mínimos detalhes. Dedicamos muito tempo, muita energia e muita paixão e gostaria que eles ouvissem o disco com a mente aberta e não se impedissem de gostar só porque não é aquilo que de repente eles esperavam. Ter a mente aberta para aceitar o trabalho que a banda está propondo para os fãs.
ENTREVISTA COM O VOCALISTA EDU FALASCHI Universo do rock: - Qual a sua impressão sobre o novo disco? Edu Falaschi: Acho que esse disco resgata o espírito do Angra de verdade. O “Aurora Consurgens” é um bom disco, mas foge um pouco do conceito principal da banda e aí acho que o “Aqua” resgata isso. Ele tem uma pitada de “Rebirth” porque as músicas são mais simples, ele tem um pouco do lance prog, meio melancólico do “Temple of Shadows”, mas não o prog do Dream Theater, de quebradeira, mas um prog no sentido de ter várias partes, vários climas. Resgata também a parte antiga do Angra, o “Holy Land” e o próprio “Temple of Shadows”.
UR: - Nesse processo de composição vocês se norteiam pelo desejo dos fãs, ou independe dele? EF: Claro que pela experiência com tantos anos de banda temos a noção do que os fãs querem ouvir e somamos isso com a nossa própria vontade. Não faríamos um disco para os outros se não estivéssemos a fim.
A gente tenta tocar o que tem vontade, balanceado com o que as pessoas querem ouvir, mas sempre procurando pender mais para o nosso lado, senão ficaria forçado. Eu procuro cantar do jeito que quero e eles me dão essa liberdade e eu faço do meu jeito.
UR: - O Felipe comentou que vocês tiveram um envolvimento completo em todas as ações relativas ao CD, o que você achou disso? EF: Eu acho que foi o disco mais de banda que fizemos. No “Rebirth” eu entrei, mas já estava tudo meio pronto. Aí veio o “Temple of Shadows”, estávamos mais íntimos, mas o Rafael já tinha todo o conceito na cabeça, ele fez todas as letras e aí veio o “Aurora Consurgens”, um disco em que o grupo estava cansado, tinha vindo de uma turnê gigante e não trabalhamos tanto nas músicas, com isso não saiu tão legal se comparado com os outros.
Já o “Aqua” tem as letras de todo mundo, composição de todos, inclusive do Ricardo. Todo mundo leu “A Tempestade”, discutimos sobre o texto. Foi o disco mais de grupo até agora.
UR: - Como você espera que os fãs reajam a esse disco? EF: Eu acho que precisam prestar atenção e perceber que é o Angra voltando às origens.
UR: - Você tem ouvido críticas? EF: Já, muita gente na internet. Cada um com uma impressão: há os que acham prog, outros acham o disco mais direto.
Só quero que as pessoas ouçam várias vezes, pois não é um disco de primeira audição e aí tirem suas próprias conclusões, mas acho que esse disco vai marcar a história do Angra, tem tudo para ser um dos grandes clássicos.
UR: - Agora vocês vão trabalhar primeiro a turnê no Brasil e depois no exterior, é esse o plano? EF: Vamos começar os shows aqui no Brasil. Em outubro vamos para o Japão, Taiwan, voltamos para o Brasil para mais algumas apresentações.
Em janeiro vamos para os Estados Unidos e depois descendo para o México, alguns países latinos e talvez em fevereiro para a Europa.
UR: - Só o Angra ou mais alguma banda? EF: Recebemos o convite para fazer apresentações junto com Stratovarius e Helloween, seria um trio Power metal. Estamos estudando, talvez aconteça.
UR: - Como você sente a banda? EF: Estou bem satisfeito. Todo mundo trabalhando bastante e não é fácil, pois são cinco caras com muitas idéias.
Eu faço música direto e mostrei umas quinze para esse disco, mas não dá pra fazer um disco meu, então é difícil escolher um pouquinho de cada um, sabe? Difícil trabalhar quando o grupo é tão produtivo, entende?
O lado bom é que a banda rende muita coisa, a gente está feliz, se renovou.
UR: - Vocês ficaram um período num sítio fora de São Paulo. Ficaram compondo? EF: Ficamos no sítio do Confessori e lá fizemos toda a pré-produção, os arranjos, ensaiamos as músicas, tocamos ao vivo e nos preparamos para gravar.
UR: - Você tem outro grupo, o Almah, como vai fazer para conciliar as duas coisas, agora com a volta total do Angra? EF: Claro que agora a prioridade é o Angra, mas assim que pintar alguma coisa com o Almah, vamos fazendo... Fizemos BH, Brasília, mas quando conversamos sobre a volta do Angra eu expliquei para os meninos do grupo que teríamos que dar uma pausa e eles entenderam. Até porque já fizemos muita coisa, está na hora de parar e compor um disco novo.
Eu vou fazer shows do Angra mas já estou escrevendo músicas novas para o novo disco do Almah e isso é para vocês, notícia em primeira mão!
UR: - Quanto tempo para lançar o disco? EF: Ainda não sei, estamos juntando as idéias, compondo, aí vamos decidir o momento certo.
UR: - Deixe um recado para os fãs do Angra. EF: Quero agradecer pela paciência e carinho, já que ficamos quatro anos sem lançar disco e ainda assim os fãs não se dispersaram. Os últimos shows estavam lotados, estamos de volta e o público também e eu só tenho a agradecer.
UR: Em São Paulo o show será em novembro? EF: Sim, no Citibank Hall, em 12 de novembro.
UR: A equipe do site Universo do rock agradece pela entrevista e deseja muita sorte a todos vocês